quinta-feira, 4 de março de 2021

A MÁSCARA DOS CRISTÃOS

 


A MÁSCARA DOS CRISTÃOS

Causa-me imensa tristeza, ao ver, estupefato, certos cristãos, inclusive amigos e pessoas que eu outrora via como guias para mim, se manifestarem publicamente contra o uso de máscaras faciais, atribuindo a obrigatoriedade de seu uso a certa ditadura da máscara, ou complô mundial para controlar mentes fracas etc. Não estou me referindo a líderes ou pessoas famosas, mas sim àqueles que até recentemente estavam comigo lado a lado, que me abraçavam, muitas vezes de joelhos, orando ao meu lado, algumas vezes com lágrimas comovidas. Agora, alegam defender certa “liberdade” para agirem como quiserem, já que estão querendo frear sua “individualidade”, que ninguém lhes impõe cabrestos.

Noto um contraste muito expressivo dessa maneira de pensar e agir com as palavras do apóstolo Paulo, que estava disposto a abrir mão de sua “individualidade” para salvar uma vida.

“Portanto, se aquilo que eu como leva o meu irmão a pecar, nunca mais comerei carne, para não fazer meu irmão tropeçar” (1 Coríntios 8:13).

Paulo, que muitas vezes estivera em celas e preso a correntes, conhecia bem o valor da liberdade, e sabia que a liberdade e o livre arbítrio têm de ser usados para o bem, e sobretudo para o bem do próximo, que deve ser colocado antes do bem próprio. Muito firme, advertiu: 

“Contudo, tenham cuidado para que o exercício da liberdade de vocês não se torne uma pedra de tropeço para os fracos” (1 Coríntios 8:9).

Que contraste! Paulo, sendo livre, fez-se “escravos de todos para ganhar o maior número possível de pessoas” (I Coríntios 9:19); tornou-se “judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus” (1 Coríntios 9:20); tornou-se “como sem lei, a fim de ganhar os que não têm a lei” (1 Coríntios 9:21); tornou-se “fraco, para ganhar os fracos” (1 Coríntios 9:22); tornou-se “tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns” (1 Coríntios 9:22). 

Paulo sentia-se obrigado a ir a muitos extremos, para salvar alguns; mas hoje alguns cristãos acham que “não podem” usar uma máscara para diminuir a chance de espalhar uma doença contagiosa. Que contraste!

Você, que é mais sábio e iluminado do que todo o resto do mundo, que pertence ao seleto grupo das pessoas que sabem verdadeiramente interpretar os fatos da maneira correta, que sabe até mais do que os especialistas que passaram a vida estudando em suas respectivas áreas do conhecimento, não se esqueça da sua responsabilidade por todo esse imenso conhecimento e sabedoria que Deus lhe deu. Não se esqueça que você é responsável pela influência que você exerce sobre as pessoas com quem você entra em contato. Não se esqueça que suas palavras e atitudes podem levar alguém mais fraco na fé e no conhecimento a se afastar de Cristo, e podem levar também alguém a morrer, ou a transmitir uma doença para alguém que vai morrer, e assim deixar famílias destroçadas pela dor de perder repentinamente pessoas a quem amam.

“Assim, esse irmão fraco, por quem Cristo morreu, é destruído por causa do conhecimento que você tem. Quando você peca contra seus irmãos dessa maneira, ferindo a consciência fraca deles, peca contra Cristo” (1 Coríntios 8:11,12).

Você se sente injustiçado porque estão obrigando você a usar máscara? Veja o que Jesus disse sobre agir diante de injustiças: 

“Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas” (Mateus 5:41). Se me permite aplicar isso aos dias dias de hoje, eu contextualizo: “Se alguém o forçar a usar uma máscara, use duas”. Você, cristão, consegue fazer isso pelo seu próximo?

Usar uma máscara facial é algo tão simples e tão importante. Evidencia sobretudo o cuidado e amor com o próximo, sendo estes conhecidos ou não. 

— “Ah, mas eu me sinto sufocado, com falta de ar!”

Você passou batido no que eu disse e precisa voltar ao início e reler o texto mais devagar. Atente-se ao que Paulo estava disposto a fazer para o bem do próximo. Atenta-se ao mandamento de Cristo. Não acredita em mim? Vá direto à Bíblia e leia na fonte. Em seguida, volte aqui.

Agora que você releu, suplico a você, cristão que é contra o uso das máscaras enquanto estamos em meio a uma pandemia descontrolada, que você reflita e reveja sua posição, para que, ao circular pelas cidades sem máscaras, não fique evidente para todos que você, de cara limpa, colocando irresponsavelmente a vida de tantas pessoas em risco, esteve na verdade a vida toda usando o cristianismo como uma máscara. E máscara por máscara, meu irmão e minha irmã, prefira a facial, para o bem todos.

André LuiZ
4 de março de 2021

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Parece um sonho...



Parece um sonho...

“Parece um sonho que ela tenha morrido!”
diziam todos… Sua viva imagem
tinha carne!… E ouvia-se, na aragem,
passar o frêmito do seu vestido.


E era como se ela houvesse partido
e logo fosse regressar da viagem…
– até que em nosso coração dorido
a Dor cravava o seu punhal selvagem!


Mas tua imagem, nosso amor, é agora
menos dos olhos, mais do coração.
Nossa saudade te sorri: não chora…


Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
E ao relembrar-te a gente diz, então:
“Parece um sonho que ela tenha vivido!”

Mário Quintana

(In: Quintana de bolso – Ed. L&PM Pocket)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A que tudo ocupa


A que tudo ocupa 

Tudo ficou sem sentido.
A poesia, a flor, o sol, a melodia
São tão vazios sem ela.
O calor tem um sopro gélido
Que ergue uma pontada 
Lá de fundo do coração
Gritando a todo ressoar 
Seu nome dissilábico.
É a saudade de alguém 
Que só chegou aos meus braços 
Após perder aquela centelha inexplicável,
A fim de que minhas lágrimas banhassem sua face,
E ela pudesse levar consigo 
Um pouquinho de mim.

Ela está presente aqui.
Vejo sua sombra em todos os cantos.
Corro mas não a encontro
Para tocá-la, envolvê-la e beijá-la.
Inalcançálvel, inatingível, indelével.
Sempre ocupando tudo,
Porque nada deixou
Além do vazio
Repleto de sua ausência.

18/02/2015

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A ponte



A PONTE

Elas são irmãs que não se encontram
Como a noite e o dia,
No vagar do coração se revezam
Trazendo o fogo ardente ou a brisa fria.

Atrás de si apenas um rastro deixam,
Denunciando o seu partir.
Fragrante perfume por onde passam
Para que uma sinta a outra sair.

Só há um lugar onde seus olhares se enlaçam,
Que lugar é esse? Eu te dou uma dica:
Uma ponte onde a Presença e a Ausência se encontram
É quando um filho se vai e o outro fica.

André LuiZ
18 de agosto de 2014
6 meses sem a Maitê
6 meses com o Teo

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A companheira


A COMPANHEIRA

Não é que a dor passe
Porque ela não passa
Mas você se acostuma com ela
Ela vira sua fiel companheira

É como um zumbido no ouvido
Que não o deixa por nem um segundo
Mas que depois de um tempo
Você é obrigado a conviver com ele
E você segue a vida apesar do som incessante na sua cabeça

Ou como uma sombra negra e fria
Sempre colada ao seu passo
Você sabe que ela sempre está lá
Mesmo que não olhe para ela
No meio dia, ela está encolhidinha sob seus pés
No começo e no fim do dia
A sombra é enorme, muito maior que você
Do tamanho de um gigante com pernas e braços desproporcionais
E à noite, sua presença é total
Envolve você e tudo ao seu redor
E você pensa que ela vai engolir a sua alma.

Sinto sua presença aqui agora
Ela não conversa comigo
Nem me cumprimenta
Apenas me abraça
E me entorpece com seu hálito gélido
Chora comigo silenciosamente
Lágrimas secas e molhadas. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

René Descartes e as "provas da existência de Deus"



Descartes aceitava que o mundo tivesse sido criado por Deus, aceitava que, se Deus existisse, ele seria garantia e suporte de todas as outras verdades. Mas, como saber se Deus existe ou não? Como provar a sua existência se apenas podia ter a certeza da existência do cogito?

Nas suas obras, Descartes apresentou três provas da existência de Deus.

1ª Prova a priori pela simples consideração da ideia de ser perfeito

“Dado que, no nosso conceito de Deus, está contida a existência, é correctamente que se conclui que Deus existe.

Considerando, portanto, entre as diversas ideias que uma é a do ente sumamente inteligente, sumamente potente e sumamente perfeito, a qual é, de longe, a principal de todas, reconhecemos nela a existência, não apenas como possível e contingente, como acontece nas ideias de todas as outras coisas que percepcionamos distintamente, mas como totalmente necessária e eterna. E, da mesma forma que, por exemplo, percebemos que na ideia de triângulo está necessariamente contido que os seus três ângulos iguais são iguais a dois ângulos rectos, assim, pela simples percepção de que a existência necessária e eterna está contida na ideia do ser sumamente perfeito, devemos concluir sem ambiguidade que o ente sumamente perfeito existe.”

Descartes, Princípios da Filosofia, I Parte, p. 61-62.

A prova é magistralmente simples. Ela consiste em mostrar que, porque existe em nós a simples ideia de um ser perfeito e infinito, daí resulta que esse ser necessariamente tem que existir. (Argumento na minha opinião sem o minimo de cabimento)

2ª Prova a posteriori pela causalidade das ideias

Descartes conclui que Deus existe pelo facto de a sua ideia existir em nós. Uma das passagens onde ele exprime melhor esta ideia é:

“Assim, dado que temos em nós a ideia de Deus ou do ser supremo, com razão podemos examinar a causa por que a temos; e encontraremos nela tanta imensidade que por isso nos certificamos absolutamente de que ela só pode ter sido posta em nós por um ser em que exista efectivamente a plenitude de todas as perfeições, ou seja, por um Deus realmente existente. Com efeito, pela luz natural é evidente não só que do nada nada se faz, mas também que não se produz o que é mais perfeito pelo que é menos perfeito, como causa eficiente e total; e, ainda, que não pode haver em nós a ideia ou imagem de alguma coisa da qual não exista algures, seja em nós, seja fora de nós, algum arquétipo que contenha a coisa e todas as suas perfeições. E porque de modo nenhum encontramos em nós aquelas supremas perfeições cuja ideia possuímos, disso concluímos correctamente que elas existem, ou certamente existiram alguma vez, em algum ser diferente de nós, a saber, em Deus; do que se segue com total evidência que elas ainda existem.”

Descartes, Princípios da Filosofia, I Parte, p. 64.

A prova consiste agora em mostrar que, porque possuímos a ideia de Deus como ser perfeitíssimo, somos levados a concluir que esse ser efectivamente existe como causa da nossa ideia da sua perfeição. De facto, como poderíamos nós ter a ideia de perfeição, se somos seres imperfeitos? Como poderia o menos perfeito ser causa do mais perfeito?

Deste modo, conclui, já que nenhum homem possui tais perfeições, deve existir algum ser perfeito que é a causa dessa nossa ideia de perfeição. Esse ser é Deus.

3ª Prova a posteriori baseada na contingência do espírito

“Se tivesse poder para me conservar a mim mesmo, tanto mais poder teria para me dar as perfeições que me faltam; pois elas são apenas atributos da substância, e eu sou substância. Mas não tenho poder para dar a mim mesmo estas perfeições; se o tivesse, já as possuiria. Por conseguinte, não tenho poder para me conservar a mim mesmo.

Assim, não posso existir, a não ser que seja conservado enquanto existo, seja por mim próprio, se tivesse poder para tal, seja por outro que o possui. Ora, eu existo, e contudo não possuo poder para me conservar a mim próprio, como já foi provado. Logo, sou conservado por outro.

Além disso, aquele pelo qual sou conservado possui formal e eminentemente tudo aquilo que em mim existe. Mas em mim existe a percepção de muitas perfeições que me faltam, ao mesmo tempo que tenho a percepção da ideia de Deus. Logo, também nele, que me conserva, existe percepção das mesmas perfeições.

Assim, ele próprio não pode ter percepção de algumas perfeições que lhe faltem, ou que não possua formal ou eminentemente. Como, porém, tem o poder para me conservar, como foi dito, muito mais poder terá para as dar a si mesmo, se lhe faltassem. Tem pois a percepção de todas aquelas que me faltam e que concebo poderem só existir em Deus, como foi provado. Portanto, possui-as formal e eminentemente, e assim é Deus.”

Descartes, Oeuvres, VII, pp. 166-169.

Descartes demonstra agora a existência de Deus a partir do facto de que não nos podemos conservar a nós próprios. Se não podemos garantir a nossa existência, mas apesar disso existimos, é porque alguém nos pode garantir essa existência.

O cogito é, assim, a expressão final sintética e intuitiva do processo de aplicação metódica da dúvida. Com efeito, é através deste processo que se atinge a substância da alma como puro pensamento (res cogitans) e que se define a essência do homem por via desta substância: eu penso, logo existo (cogito ergo sum).

Fonte: Fórum Filosofia

terça-feira, 30 de abril de 2013

Onde e aonde: diferenças



Nos tempos mais antigos do idioma, ‘onde’, graças à sua natureza de advérbio de lugar, se aplicava tanto à circunstância de lugar real (= neste local), quanto à de lugar virtual ou figurado, nos seus matizes semânticos de vizinhança, aproximação, ou direção. Tais matizes favoreciam o emprego de ‘onde’ reforçado por preposição: a (aonde), de (de onde, donde), etc. Por isso, desde sempre os escritores podiam usar indiferentemente ‘onde’ e ‘aonde’, por exemplo, nas indicações de repouso (Nasci onde/aonde você nasceu) ou movimento (Fui onde/aonde você foi), a ponto de ocorrerem na mesma frase, ou bem próximo, as duas formas, como neste poema de Cláudio Manuel da Costa, poeta árcade brasileiro do século XVIII: “Nise, onde estás? Aonde? Aonde?”

A partir do século XIX, com o maior cuidado dos gramáticos para estabelecer disciplina no uso da modalidade formal na língua escrita, procurou-se evitar esse uso indiscriminado de ‘onde’ e ‘aonde’, e se passou a recomendar ‘onde’ para a circunstância de repouso (Nasci na cidade onde você nasceu), ‘aonde’ para circunstância de direção (Fui aonde você foi) e ‘de onde’ ou ‘donde’ para a noção da origem, procedência, ponto de partida (De onde você vem?, Donde nasceu essa ideia? Perguntaram-me donde procede essa história?). Parece que o primeiro gramático a propor esta distinção entre o ‘onde’ e ‘aonde’ foi o dicionarista fluminense Antônio de Morais Silva, em 1813. Todavia, a proposta não alcançou o resultado desejado, principalmente no uso oral. No texto escrito formal a lição corre vitoriosa, apesar dos descumprimentos raros — é verdade — que hoje ainda se registram.

Portanto, esforcemo-nos por atender a esta lição da gramática normativa: Se o enunciado encerra a ideia de repouso, usa-se ‘onde’: onde estou, onde nasci, onde moro, onde trabalho, onde estudo, etc. Se a ideia é de movimento, usa-se ‘aonde’: aonde vou, aonde me dirijo, aonde me levaram, etc. Se a ideia é de origem, procedência, ponto de partida, usa-se ‘de onde/donde’: donde venho, donde saí, donde parti, etc.

Evanildo Bechara, Academia Brasileira de Letras
Publicado em: O Dia (RJ), 12/2/2012